"Hoje faleceu José Saramago. A notícia foi-me dada quando estava com o nariz enfiado no livro de Matemática. Ao início não acreditei que um acontecimento histórico, a morte de um escritor que ganhou o Prémio Nobel, estivesse a acontecer, já que para mim, não acontecia nada de interessante em termos sociais há muito tempo.
Desde logo, um pensamento me ocorreu:
- O nosso ano, dos que nasceram em 1992 e fizeram exame em 2010, foi o último a estudar o Memorial com o escritor em vida. Essa perspectiva encheu-me de orgulho injustificado (porque não tenho razões para me orgulhar, foi um mero acaso). Mas não podia deixar de sentir uma certa honra.
Hoje apenas interrompi o meu estudo e as minhas pausas com a memória deste homem. Deliciei-me a ver na SIC a repetição do seu debate com um padre, de cujo nome de momento não me recordo. Era sobre Caim. E descobri uma coisa, para além de gostar de o ler, gosto de o ouvir. Gosto mesmo. É o timbre ou a forma como o vocabulário se conjuga numa frase perfeita, com significados intrínsecos disfarçados, que dá um gozo especial decifrar ou ter a ilusão de que se decifrou. Acho interessante como o tomam como um ressentido com a Igreja, e com uma série de ódios recalcados aos portugueses. Eu digo: "Que tonteira!" Acho que um artista tem liberdade para expressar as suas convicções de forma literária sem ser tomado como hater. Afinal, é estimulante desvendar todos os significados da ironia e crítica da sua escrita e analisar e perceber a sua visão de uma sociedade utópica. Opiniões. Faz parte de uma sociedade democrática e civilizada respeitá-las.À parte das controvérsias, é importante referir a beleza do seu texto, a maneira como, não sendo de todo o seu objectivo ser belo, se torna belo. A maneira crua e realista como descreve as coisas pode não nos agradar, mas não deixa de nos cativar como algo interessante e digno de análise. De uma grande análise.
Qualquer homem que cria algo deve ser louvado, pelo simples facto de nos dar algo para analisar.
Obrigada pela sua arte, José Saramago.
(e por alegrar o meu dia de estudo com a sua memória)"
Luzia Cordeiro,
Estudante, in Público,
20/06/2010
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