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terça-feira, abril 20

O 25 de Abril na 1ª Pessoa # [3]


"[...]Não tenho recordações do Antigo Regime pois nunca a minha família ou alguém próximo sofreu qualquer tipo de pressão ou inconveniente político. A vida corria-nos normalmente.
Andava no colégio O Pinheirinho e, nesse dia, tudo o que queríamos era que o canhão do Monte de Sta. Luzia disparasse, pois gostávamos de o ver nos exercícios. Coisas de miúdos...
Lembro-me de que o meu pai e o meu avô foram sitiados nos respectivos locais de trabalho e tiveram medo. Isso surpreendeu-me e assustou-me, pois em criança não nos apercebemos das fragilidades dos adultos. Lembro-me de ambos terem receio de perder os empregos. O meu avô chegou a ser saneado, mas foi mais tarde reintegrado. Lembro-me de, após a revolução, se viver com alguma instabilidade e de a minha mãe guardar numa gaveta da cozinha um papel com o número de telefone do COPCOM para "se fosse preciso".
Lembro-me, depois, de coisas triviais, como as canções revolucionárias e os constantes debates políticos na televisão, as ruas muito sujas e as paredes riscadas e cheias de cartazes colados. Foi o que ficou na memória de uma criança."
Dolores Bonaparte,
Encarregada de Educação

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