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quinta-feira, abril 22

O 25 de Abril na 1ª Pessoa # [6]

Faculdade de Direito de Lisboa

«O 25 de Abril "apanhou-me" no primeiro ano do Curso de Direito da Faculdade de Direito de Lisboa onde, em 1973, aos 17 anos de idade, havia ingressado.
Apesar da minha grande incultura política, na altura senti que algo de bom iria passar a acontecer naquela Faculdade onde, até essa data, se vivia um verdadeiro clima de terror...
"Gorilas", (era mesmo assim que se chamavam, o que condizia aliás, com o seu aspecto físico), à porta para verificar quem tinha cartão para entrar, guerras diárias com as estudantes chamadas "subversivas" que ousavam falar na sala de aula (às vezes anfiteatros com centenas de alunos) contra a guerra colonial e que eram logo atiradas, pelos mesmos "Gorilas", pela escada abaixo, o que lhes valia cabeças partidas e ensaguentadas, outras alunas "subversivas" a entregarem panfletos revolucionários aos estudantes mais pacatos e nós a tentarmos fugir para não sermos apanhadas, conversas de corredor entre os estudantes sempre vigiadas por algum funcionário mais "zeloso" (que, mais tarde, viemos a saber ser informador da PIDE)...enfim...e, por cima disso tudo, os professores a falarem literalmente de alto das suas cátedras, rodeados pelos seus assistentes, em anfiteatros a abarrotar de gente, onde o diálogo e o à vontade eram proíbidos e onde a possibilidade de se conseguir um dozesinho constituía, na altura, uma simples miragem.
Com este panorama e neste clima, os direitos que sentimos terem sido imediatamente adquiridos no 25 de Abril, foram os da liberdade de reunião e de expressão, os quais, provavelmente, e à luz dos nossos olhos actuais, terão sido usados e abusados nos dias que se seguiram, tendo sido implantadas reformas e reformazinhas que pouco tiveram a ver com o ensino do Direito propriamente dito, mas isso seria matéria para um outro testemunho!»
Ângela Nunes,
Encarregada de Educação

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