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sexta-feira, abril 23

O 25 de Abril na 1ª Pessoa # [8]

Eu, nos Anos 70

«São muito escassas as memórias que tenho da minha infância, mas há dois ou três flashes que surgem quando penso para trás. O dia 25 de Abril de 1974 é, sem dúvida, um deles.
Em Abril de 74 eu tinha 8 anos. Nada sabia sobre a ditadura, a guerra colonial, as perseguições políticas, a PIDE, a inexistência de liberdade de expressão.
Naquele dia estava em casa dos meus Avós Maternos, como aliás acontecia frequentemente. Lembro-me que estava um dia de sol radioso, o meu Avô estava em frente ao espelho da casa de banho a fazer a barba, preparando-se para ir trabalhar. Tocou o telefone. Eram os meus Pais. A avisar que não devíamos sair para a Escola. Tinha havido uma revolução e pedia-se às pessoas que se mantivessem nas suas casas.
A casa dos meus Avós era um 7º andar na Almirante Reis, em Lisboa. Uma casa com um terraço fenomenal, com uma vista imensa desde o Areeiro até quase ao Martim Moniz.(Deste terraço, do cimo da chaminé, foi filmada a primeira manifestação do 1º de Maio em Lisboa, por um jornalista francês que bateu à porta dos meus Avós a pedir autorização para o fazer).
Assim que desligou o telefone, a minha Avó rompeu em pranto. Cheia de medo "daquele maldito terraço, alvo fácil para uma bomba". O meu Avô correu a ligar o pequeno transistor onde costumava ouvir as notícias pela manhã. Lembro-me da alegria dele. Lembro-me de ouvir a Grândola Vila Morena não sei quantas vezes durante esse dia.
Acredito que para os que, como eu, eram muito pequenos na altura e não tinham noção das alterações provocadas pela revolução, as recordações que ficam são as das emoções vividas por aqueles que nos rodeavam. Para mim, esta data é sempre de festa (apesar de 23 anos mais tarde a minha Avó ter morrido naquela mesma casa, naquela mesma data, de manhã), porque foram de festa e de alegria as reacções que vi nos que me rodeavam.
Cantei todas as canções da época e são muitas as que ainda sei de cor. Sorrio ao recordar alguns cartazes e murais que tantas vezes vi colados nas ruas de LIsboa. Não consigo deixar de me arrepiar quando oiço o "E Depois do Adeus". Não consigo deixar de acreditar que por muita coisa que tenha sido mal feita, esta viragem nos ofereceu direitos essenciais que, actualmente, para os nossos Filhos, não passam de evidências, não poderiam sequer imaginá-los ausentes da sociedade.
A alegria do meu Avô no dia 25/04/74 está sempre presente em mim, tendo acabado por influir na minha forma de estar e de pensar o Mundo e a sociedade.»
VeraBaetaLima,
Encarregada de Educação

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